terça-feira, 31 de agosto de 2010

'Temple Grandin' ganha cinco Emmys

O filme de longa-metragem produzido pelo HBO "Temple Grandin" ganhou cinco Emmys em 2010: melhor filme para TV, melhor diretor (Mick Jackson), melhor atriz (Claire Danes), melhor atriz coadjuvante (Julia Ormond), melhor ator coadjuvante (David Strathairn) e mehor roteiro. Estrelado por Claire Danes, o filme narra a trajetória de Temple Grandin, engenheira, escritora e cientista em comportamento animal, que escreveu os livros "Uma menina estranha" e "Na língua dos bichos" - disponíveis no Brasil - e inventou a máquina do abraço, engenhoca que a aliviava da ansiedade que lhe provocava sua condição autista.

A vida de Temple, hoje uma das maiores especlalistas em autismo no mundo, também é a fonte em que se baseou José Sanchis Sinisterra para escrever a peça "A máquina de abraçar", montada no Rio no ano passado. Nela, Mariana Lima interpretava personagem inspirado em Temple Grandin.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ressonância cerebral pode identificar autismo, diz estudo

Ter, 10 Ago, 08h37

Por Ben Hirschler

LONDRES (Reuters) - Uma ressonância magnética feita em 15 minutos no futuro poderá ser usada para o diagnóstico mais fácil e barato do autismo, disseram cientistas britânicos na terça-feira.

Eles afirmaram que o teste rápido teve índice de acerto superior a 90 por cento em adultos, e que não há razão para crer que não funcione tão bem quanto em crianças.

Atualmente, o diagnóstico é feito em entrevistas e observações comportamentais que podem ser demoradas e emocionalmente desgastantes.

O autismo é um distúrbio cerebral complexo, caracterizado por dificuldades na comunicação e na interação social, podendo provocar um comprometimento de brando a profundo.

O novo método, que examina alterações estruturais na matéria cinzenta cerebral, pode estar pronto para uso geral dentro de dois anos. O próximo passo é testá-lo em crianças.

Declan Murphy, professor de psiquiatria do King's College, de Londres, disse em entrevista que o novo método permitirá um tratamento mais imediato dos pacientes, especialmente em crianças. Em alguns casos, a terapia cognitivo-comportamental e tratamentos educacionais podem ser altamente eficazes contra o transtorno.

Murphy e seus colegas, que divulgaram a descoberta na publicação Journal of Neuroscience, estudaram 20 adultos saudáveis e 20 outros com diagnostico prévio de distúrbios do espectro do autismo, o que inclui também a síndrome de Asperger.

O índice de acerto foi considerado altamente significativo, mesmo em se tratando de uma amostra tão pequena.

O exame analisa variações na forma e na estrutura de regiões cerebrais ligadas à linguagem e ao comportamento social, usando máquinas comuns de ressonância magnética por imagens.

Como o exame é muito mais rápido, acaba custando cerca de 5 por cento do valor de exames tradicionais, que podem exigir quatro a oito horas do trabalho de vários médicos. Uma ressonância cerebral custa cerca de 150 dólares.

O autismo e os transtornos correlatos são diagnosticados em cerca de 1 por cento da população da Grã-Bretanha e Estados Unidos, e afeta igualmente meninos e meninas. Pesquisadores concordam que há um forte componente genético.

sábado, 31 de julho de 2010

Filmes sobre autismo

O AUTISMO VISTO PELO CINEMA



Marcelo Bolshaw Gomes



Diz a lenda que, certa vez, pediram uma música a John Lenon: “Aquela que fala de amor”. Ao que respondeu o compositor: “Mas todas nossas canções falam de amor”. O mesmo acontece com o cinema, pois, quando tentamos lembrar dos filmes sobre comportamentos irracionais, pensamos que 'todos os filmes são sobre a loucura'. A loucura sempre foi um 'objeto' privilegiado do cinema. E de uma forma ambígua: ora como antagonista, ora como protagonista. Nos filmes favoráveis à racionalidade (geralmente de ação e romance), ela sempre foi o vilão e está associada à violência. A maldade é explicada como loucura e o herói é o homem racional. Nos filmes contrários à razão (frequentemente nas comédias de costumes), o louco é um anti-herói, um sábio às avessas, um artista incompreendido ou ainda uma forma satírica de crítica ao poder.

Filmes sobre o drama de ser louco são mais raros e bem mais recentes. Nos últimos 40 anos, no entanto, esses dramas não só se multiplicaram como também se especializaram em diferentes tipos de psicopatologia. Há filmes dramáticos sobre artistas esquizofrênicos, sobre assassinos psicopatas, sobre jovens psicóticos e rebeldes, sobre mulheres histéricas … e há filmes específicos sobre autismo.

Há uma primeira geração de filmes sobre o drama do autismo em que os portadores são representados de bastante forma caricatural, isto é, simplificada e bem distante da realidade. Rain man (1988); Forrest Gump, o contador de histórias (1994); e Código para o inferno (1998) – são três filmes que colaboraram muito para divulgar o autismo, embora de modo bem diferente de sua verdadeira realidade.

Rain man, além de ter sido sucesso de público e de crítica, foi também um marco revolucionário no sentido de divulgar e promover uma compreensão pública ampliada dos sintomas do comportamento autista e da possibilidade de convivência familiar com os portadores. O filme conta a história de Charlie Babbitt (Tom Cruise), um jovem boa vida que viaja a um hospital psiquiátrico para tentar descobrir quem é o beneficiário da fortuna que seu pai deixara ao falecer. Ao chegar ao hospital, Charlie descobre que o beneficiário é Raymond (Dustin Hoffman), um irmão mais velho autista de quem nunca ouvira falar. Para garantir o dinheiro da herança, Charles se aproxima de Raymond, disposto a brigar judicialmente pela guarda legal do irmão. Os dois então viajam pelos EUA, se conhecendo melhor, aprendendo a conviver e passando por inúmeras dificuldades juntos. Aos poucos, o laço de afeto entre os dois irmãos ganha força e o dinheiro deixa de ser importante. Levando-se em consideração o momento, o filme ensina a convivência com autismo e desmistifica o preconceito.

Um segundo passo será dado com o filme Forrest Gump, dirigido por Robert Zemeckis com Tom Hanks no papel-título. O filme narra quarenta anos da história dos Estados Unidos, vistos pelos olhos de um anti-herói autista que, por obra do acaso e de um modo meio cômico, consegue participar de momentos cruciais, como a Guerra do Vietnã e Watergate. Trata-se de uma poetização do autismo, que ressalta várias capacidades reais do autista (de viver com autonomia, de realização pessoal e profissional do portador por outros meios), mas romantiza demais sua vida.

Há ainda, nessa primeira geração do olhar cinematográfico sobre o autismo, o filme Código para o inferno. Nele o agente decadente do F.B.I Arthur Jeffries (Bruce Willis) tenta a todo custo defender da morte Simon Lynch (Miko Hughes), um menino de nove anos autista que código secreto e está sendo perseguido pelo governo americano. Apesar do enredo voltado para aventura e para o suspense, esse é, dos três filmes, o que apresenta mais elementos significativos (certamente é o filme que teve mais pesquisa) para compreensão do autismo, pois o desenvolvimento da trama depende da comunicação entre o agente Jeffries e o garoto Simon – o que passa para o público a real sensação de incapacidade autista. No entanto, em nenhum momento, o filme quis ou pretendeu dar uma solução definitiva a esse impasse pois sua proposta é a de mostrar o comportamento autista em um filme de aventura e não o de fazer um filme sobre as caraterísticas do autismo ou sobre as dificuldades de seus portadores.

Essa mesma estratégia (de colocar portadores de forma trivial em narrativas com outros focos) pode ser observada também em outros filmes recentes como Querido John, um drama romântico que incorpora o autismo com naturalidade ao cotidiano de seus personagens em segundo plano.

Filmes de autoajuda

Há também um segundo tipo de filme abordando o tema do autismo, mas interessado em focar um público mais próximo do comportamento. São filmes de autoajuda ou filmes pedagógicos. Por exemplo: Meu filho, meu mundo (Son-Rise, A miracle of love) de 1979, que conta a história autobiográfica da família que fundou o método Son-rise, após se confrontar com os tratamentos behaviouristas do autismo. Trata-se de um filme obrigatório no que diz respeito a alertar as famílias dos portadores contra os tratamentos comportamentais baseados em castigos e punições.

Também incluímos nessa categoria de autoajuda filmes mais leves, como Simples como amar (The other sister, 1999), em que, após se formar em uma escola especial, a portadora Carla Tate (Juliette Lewis), apesar de ser intelectualmente limitada, não quer voltar para casa de seus pais em São Francisco, planejando morar sozinha, ter uma vida independente e se libertar da presença da supercontroladora mãe (Diane Keaton), que a vigia de forma sufocante. Este desejo de autonomia aumenta quando Carla começa a namorar Danny McMann (Giovanni Ribisi), um jovem que, como ela, também é autista e já mora sozinho. É preciso dizer que a caricatura de supermãe feita por Diane Keaton desperta gostosas risadas dos portadores de comportamento autista e a fúria indignada de suas mães. E, é claro, o filme minimiza as dificuldades.

Outro filme importante de ser citado é Um certo olhar (Snow Cake, 2006). Alex (Alan Rickman) é um taciturno inglês que está no Canadá para se encontrar com a mãe de seu falecido filho. No caminho ele dá carona para Vivienne (Emily Hampshire), jovem que vai visitar a mãe. Na viagem um caminhão atinge o carro, matando Vivienne. Alex sai então à procura da mãe da jovem. Ao encontrá-la, descobre que ela (Sigourney Weaver) é autista. Linda não tem qualquer reação ao saber da tragédia, mas Alex decide ficar com ela até o funeral. É quando ele conhece Maggie (Carrie-Anne Moss), a vizinha com quem se envolve. Weaver está impecável como autista e de todos os filmes já citados, esse é o mais próximo da realidade.

Filmes especiais

E finalmente é preciso dizer que existem filmes especiais para pessoas especiais. E não simplesmente sobre pessoas especiais. Pode-se dizer que os primeiros filmes que tratavam o autismo de forma caricatural eram direcionados para o público não-autista, que a geração de filmes de autoajuda era voltada para consolar e orientar os pais, amigos e familiares próximos aos portadores; e que, apenas recentemente, o cinema passou a focar sua mensagem para os próprios autistas, ou melhor: para porção autista que há em todos nós.

Chocolate (Thai, 2008) é um desses filmes. Zin (Ammara Siripong) é uma integrante da máfia tailandesa que foi expulsa da organização após se envolver com um membro do alto escalão da Yakuza, Masashi (Hiroshi Abe). Ela engravida de Masashi e dá a luz a Zen (Yanin “Jeeja” Vismitananda), uma menina que nasceu com autismo, mas com uma incrível habilidade de aprender a lutar apenas com sua memória fotográfica. A primeira vista, esse breve enredo apenas contextualiza mais um filme de artes marciais, uma tragédia tailandesa, em que uma menina autista mata todo mundo e morre de apanhar no final - um terror para os pais e professores. No entanto, observando melhor se perceberá que a intenção principal do filme é demonstrar que a teimosia pode ser converter em treinamento. Atriz que faz a protagonista é realmente autista e realmente luta artes marciais sem dublê – como se pode ver nas tomadas após o final da estória. Os portadores de síndromes do espectro autista geralmente sofrem muito por não saberem se defender e ter acessos de raiva. A mensagem de Chocolate é: toda agressividade pode ser canalizada em objetivos, aprenda a se defender e não gaste energia.

A Menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland, 2009) é menos violento que Chocolate mas também vê o mundo a partir de uma perspectiva autista, levando o público a pensar e a sentir como se fosse um portador. Phoebe (Elle Fanning) é uma menina rejeitada pelos seus colegas de classe, que deseja mais do que tudo participar da peça de teatro da escola, Alice no País das Maravilhas. Phoebe tem a Síndrome de Tourette e toda narrativa segue a lógica da protagonista. Aliás, outra caraterística desta terceira geração do olhar cinematográfico sobre o autismo é que os filmes se especializaram ainda mais, enquadrando as diferentes síndromes do transtorno de comportamento. A síndrome de Asperger por ser a mais conhecida do espectro autista é a que rendeu mais filmes até o momento.

Loucos de Amor (Mozart and Whale, 2005) Donald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger, uma espécie de autismo que provoca disfunções emocionais. Donald trabalha como motorista de táxi, adora os pássaros e tem uma incomum habilidade em lidar com números. Ele gosta e precisa seguir um padrão em sua vida, para que possa levá-la de forma normal. Entretanto ao conhecer Isabelle em seu grupo de ajuda tudo muda em sua vida. O filme teve e tem uma importância significativa para muitos portadores da síndrome de Asperger, uma vez lhes dá um modelo e uma esperança de relacionamento. É que devido a dificuldade de se relacionar, a maioria dos aspies são extremamente sozinhos e imaturos, muitos nunca tiveram a oportunidade de experimentar um romance.

No entanto, nesse sentido, o melhor filme sobre Asperger já realizado é Adam (2009) dirigido por Max Mayer. Nele, rapaz solitário e programador brilhante (Hugh Dancy), portador da síndrome de Asperger, desenvolve uma romance com sua vizinha que é normal, a escritora Beth (Rose Byrne). O filme é tão fiel à realidade dos Aspergers, que muitas pessoas (no mundo todo) já se autodiagnosticaram após assisti-lo.

Há também Mary and Max (2009). Uma animação sobre a amizade através de cartas entre Mary - uma solitária menina de oito anos que vive no subúrbios de Melbourne; e Max - um portador de Asperger de 44 anos que vive em Nova Iorque. O filme segue o mesmo tom sarcástico e tragicômico caraterístico dos aspies, beirando o humor negro e a melancolia, procurando dizer coisas difíceis de modo engraçado. Na verdade, é uma estória bela e triste.

A atenção da mídia para o tema Asperger nos EUA hoje é bem forte: recentemente houve até um candidata aspie (Heather Kuzmichd) no reality-show America´s Next Top Model; e há atualmente vários seriados no ar (Bones, The Big Bang Theory e Regenesis) que têm personagens portadores da síndrome. No Brasil, no entanto, ainda reina a desinformação e o preconceito; há pouco espaço na mídia e esses filmes ainda não são de amplo conhecimento – daí a razão do presente texto, que sistematiza essas iniciativas e incentiva que se realizem outras.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Brasileiro dirige peça sobre o autismo em Nova Iorque

Estreiou dia 22 de julho, no T. Schreiber Studio & Theatre em Nova Iorque a peça “Alien Child”, dirigida por Guilherme Parreiras. A história aborda a luta de uma família para lidar com o autismo, e mostra um garoto de 16 anos que tenta se afastar da irmã doente para viver a própria vida.

Escrita por Jim Shankman, a peça mostra um casal já cansado de cuidar de Charlie (Olivia Killingsworth), a garota autista que é irmã gêmea de Jonah (Ken Jansen). A contratação de um terapeuta devolve ao pai, Ben (Michael W. Murray), a esperança de cura, enquanto Sarah (Kelly Haran), a mãe, acredita mais na própria capacidade para cuidar da filha.

Em entrevista por telefone, Guilherme Parreiras falou sobre a peça e a abordagem do tema autismo. Convidado pela T. Schreiber, onde já estudou, o diretor disse que o trabalho antes da estréia é uma oficina, onde todos trabalham o roteiro e desenvolvem os personagens aos poucos. A intenção é fazer uma produção completa no futuro, segundo ele. O autor, de acordo com Guilherme, está presente de vez em quando.

Sobre o tema, o brasileiro disse que o autismo está despertando o interesse público. “Está se tornando uma espécie de epidemia nos Estados Unidos”, disse ele. Segundo estatísticas do Centro de Prevenção e Controle de Doenças, uma em cada 110 crianças americanas nasce com autismo. “Não existe cura, eles (os cientistas) ainda não sabem o que está causando isto”.

O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento, que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo e de estabelecer relacionamentos. Os cientistas acreditam que a doença seja causada por fatores genéticos e ambientais. Segundo uma pesquisa, se um dos gêmeos idênticos tiver autismo, o outro tem de 60% a 90% de chance de também ter a doença.

Conflitos

De acordo com Parreiras, a peça aborda as dificuldades do dia a dia da família, em relação ao autismo, bem como questões morais. “O que deve ser feito, o que é melhor para a Charlie. Existem opiniões diferentes. A família entra em conflito. Assim como os cientistas ainda não sabem as causas, as pessoas que vivem com isso às vezes também tem dificuldade de lidar com isso”.

O diretor explicou que a peça não tem a intenção de oferecer sugestões de como lidar com o autismo ou uma resposta, e sim mostrar como é a vida de uma família que convive com o autismo. Para dirigir “Alien Child”, Guilherme leu artigos e assistiu a vários documentários. Nos filmes, teve a oportunidade de ver os diferentes tipos de autismo. “Assisti cerca de 10 documentários”.

Através da dramatização do assunto, Parreiras e o elenco esperam abrir mais debates entre o público.

O elenco de “Alien Child” conta com ainda com Pat Patterson, no papel de Ms. Ravitch, e Meghan Wilson, que interpreta Sally. A exibição vai de 22 a 25 de julho, e de 30 de julho a 1° de agosto. Os ingressos custam $5 (admissão geral). Reservas através do e-mail Theatre@tschreiber.org. O T. Schreiber Studio & Theatre fica no 151 W 26th Street, telefone (212) 741-0209.


Da redação do ComunidadeNews.com

domingo, 25 de julho de 2010

Lionel Messi

Nem Cruijff nem Ronaldinho. E nem Maradona. Para os adeptos do Barça a oitava maravilha é Messi. Eis uma história, uma lição de vida, que encanta Camp Nou.


É uma desforra bem pessoal, a história do menino autista aos 8 anos, anão aos 13, que via o mundo a 1,10 metros do solo. É esse mesmo, Lionel Messi, que botou corpo à base de tratamentos hormonais e que, 59 centímetros depois, encanta o mundo do futebol, naquele jeito singularíssimo de conduzir a bola colada ao genial pé esquerdo, como se o couro redondo fosse um mano siamês, uma mera extensão corporal, um órgão vital, inseparável. E Barcelona rende-se ao talento de "La Pulga". E os adversários caem aos pés de um talento puro e raro.


E por muito talento que tivesse para jogar à bola, estaria o rapaz consciente do destino glorioso que lhe estava reservado?


O miúdo de 16 anos que vestiu pela primeira vez a camisola da equipa principal do Barcelona num jogo com o F. C. Porto, a 16 de Novembro de 2003, na inauguração do Estádio do Dragão, o Lionel Messi que agora caminha sobre a água, é ainda o mesmo menino que sobrevoou o Atlântico, em 2000, para se curar de uma patologia hormonal. Lá na Argentina, na Rosário natal, os prognósticos médicos eram arrasadores: sem tratamento eficaz contra o nanismo, Lionel chegaria à idade adulta com 1,50 metros, no máximo.


Os diagnósticos alarmaram os Messi. E o custo dos curativos também: mil euros mensais, ou seja, quatro meses de rendimentos da família de La Heras, um bairro pobre de Rosário. Mas o pai de Lionel não se resignou. Sabia que o filho, pequeno no corpo, era gigante no talento. E não aceitou a fatalidade. Nessa altura, o prodígio de dez anos despontava no Newells Boys, fintando meninos com o dobro do tamanho e marcando golos atrás de golos. O pai sugeriu ao clube que pagasse os tratamentos de Lionel. A resposta foi negativa. E o mesmo sucedeu quando os Messi foram bater à porta do grande River Plate.


Na adversidade, a família Messi teve mais força, com a ajuda de uma tia de Lionel, emigrada na Catalunha. E foi assim, em 2000, ainda antes de completar 13 anos, que Lionel e os pais viajaram até Lérida. Dias depois, o pequeno prodígio foi fazer testes ao Barcelona... E com a bola quase a dar-lhe pelos joelhos, aquela habilidade enorme logo maravilhou os treinadores do Barça.


Carles Rexach, director do centro de formação do Barcelona, ficou maravilhado com o prodigiozinho argentino. Ao cabo de dois treinos, não hesitou e logo tratou de arranjar contrato. E ficou espantado com a proposta do pai do craque: o Barça só tinha de lhe pagar os tratamentos que os médicos argentinos sugeriam. Foi dito e feito.


Durante 42 meses, Lionel levou, todos os dias, injecções de somatropina, hormona de crescimento inscrita na tabela de produtos proibidos pela Agência Mundial Antidopagem e só autorizada para fins terapêuticos. Em 2003, a milagrosa hormona fizera de Lionel o que ele é hoje, um rapagão de... 1,69 metros!


No Verão de 2004, acabadinho de fazer 17 anos, e já com contrato profissional, entrou para a equipa B do Barça. Mas fez só cinco jogos, porque aquele enorme talento não cabia no "Miniestadi". Reclamava palcos maiores. E rapidamente começou a jogar no Camp Nou, na equipa principal. A 16 de Outubro de 2004, o prodígio fez a grande estreia na liga espanhola, num dérbi com o Espanhol. A 1 de Maio de 2005 entrou para a história do Barça: marcou ao Albacete e tornou-se no mais jovem jogador a marcar um golo pelo Barcelona. Aos 17 anos, dez meses e sete dias, começou a lenda.


Cinco anos depois, Messi teve a consagração absoluta. Foi eleito Melhor Jogador do Mundo de 2009, após uma época de sonho, concluída com um feito inédito do Barça "de las seis copas": campeão de Espanha, da Taça do Rei, da Supertaça Espanhola, da Supertça Europeia, da Liga dos Campeões, do Mundial de Clubes. Ufff!!!


O craque que o Barça contratou pelo custo da terapia de crescimento é, hoje, a maior jóia do futebol mundial, segurada por uma cláusula de rescisão de... 250 milhões de euros!!! E é, também, o mais bem pago de todos: o menino pobre do bairro de la Heras é, agora, multimilionário, vencendo qualquer coisa como... 33 milhões de euros anuais em salários e publicidade. Nem em contos...


Lionel Andrés Messi, 22 anos (24/06/1987)


Nacionalidade: Argentina


Palmarés: Campeão de Espanha (2005, 2006, 2009), Taça do Rei (2009); Supertaça de Espanha (2005, 2006, 2009); Liga dos Campeões (2006, 2009); Supertaça Europeia (2009); Mundial de Clubes (2009).

http://tiri-ri.blogspot.com/2010/05/uma-licao-de-vidalionel-messi.html

terça-feira, 13 de julho de 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

Heather Kuzmich mostra a face da síndrome de Asperger na TV americana

por TARA PARKER-POPE, do New York Times (1)



Heather Kuzmich tem a desordem neurológica conhecida como síndrome de Asperger. Ela é socialmente desajeitada, tem problemas para olhar olho no olho quando fala com alguém e às vezes é alvo das piadas das pessoas que moram com ela. Mas o que faz com que Kuzmich, de 21 anos, seja diferente dos outros portadores de Asperger é o fato de que seu esforço para conviver com a doença esteja sendo exibido em cadeia nacional nos EUA nas últimas 11 semanas. Ela é uma das 13 jovens selecionadas pela supermodelo Tyra Banks para competir no popular reality show “America´s Next Top Model”.
A adição de Heather Kuzmich a um programa que normalmente seria superficial deu a milhões de telespectadores uma visão incomum e fascinante do mundo pouco compreendido do Asperger. O problema, considerado uma forma de autismo, caracteriza-se por interação social e habilidades de comunicação fora do comum.
Os "aspies", como as pessoas com a doença se auto-intitulam, com freqüência têm inteligência normal ou acima da média, mas têm problemas em fazer amigos e não têm a habilidade intuitiva para avaliar situações sociais. Elas também não conseguem fazer contato olhando nos olhos de outra pessoa e com freqüência apresentam uma fixação em alguma idéia, algo que pode acabar se tornando bizarro ou brilhante. Por definição, as pessoas com Asperger estão fora do comum.

Mesmo assim, em meses recentes, a síndrome ganhou lugar de destaque. “Look me in the eye” (“Olhe nos meus olhos”), um livro de memórias sobre a vida com Asperger escrito por John Elder Robison, que já criou efeitos especiais para bandas como o Kiss, se tornou um best seller. Em agosto, o crítico musical vencedor do prêmio Pulitzer, Tim Page, escreveu um comovente artigo para o "The New Yorker" sobre a vida com Asperger não-diagnosticado.
Robison afirma que o apelo popular dessas histórias talvez se deva, em parte, à tendência que as pessoas com Asperger têm de ser dolorosamente diretas -– elas não tem o filtro social que impede que outras falem o que lhes passa pela cabeça. “É importante porque o mundo precisa saber que existem enormes diferenças de comportamento humano”, disse Robison, cujo irmão é o escritor Augusten Burroughs.
“As pessoas estão muito dispostas a descartar alguém porque essa pessoa não responde como elas gostariam. Eu acho que livros como o meu transmitem ao mundo a mensagem de que cabe mais a nós do que a eles fazer isso”.
Mas, enquanto Robison e Page contam a história sobre conseguir conviver coma doença a partir da perspectiva de homens com 50 anos, Heather Kuzmich está apenas começando sua vida adulta com o problema. E é muitas vezes doloroso assistir sua transição de uma adolescente socialmente desajeitada para uma adulta socialmente desajeitada.
Uma talentosa estudante de artes de Valparaíso, Indiana, ela tem uma aparência esbelta e angulosa que é perfeita para a indústria da moda. Mas sua beleza não encobre os desafios representados pela síndrome de Asperger. O programa exige que ela more numa casa com mais 12 aspirantes a modelo e ali os comentários maliciosos e críticas pelas costas são comuns. Logo no início do programa, ela parece socialmente isolada, as outras meninas cochicham sobre ela de modo que Heather possa escutar e o público pode ver a jovem portadora de Asperger chorando ao telefone em conversa com sua mãe.
Uma das meninas fica frustrada porque Heather, concentrada em arrumar sua mala, não ouve um pedido para que saia da frente. Em dado momento, as outras riem quando escolhem suas camas e Heather fica sem lugar pra dormir. “Eu gostaria de entender a piada”, lamenta Heather. “Você. Você é a piada”, retruca outra modelo, Bianca, uma estudante universitária de 18 anos que é de Queens, Nova York.
Mas, ao mesmo tempo em que os estranhos maneirismos de Heather a separam das moças que moram com ela, essas características acabam se traduzindo em um estilo fashion ultra moderno em suas sessões de fotos. Em entrevistas para televisão, ela muitas vezes olha para o lado, incapaz de estabelecer um contato olho no olho. Mas Tyra Banks, a modelo dos anos 60 Twiggy e o fotógrafo Nigel Barker, que aparecem no programa de TV, ficam impressionados com a habilidade que a jovem tem de fazer contato com câmera.
O pop star Enrique Iglesias ficou tão encantado com sua aparência que a escolheu para um papel em seu próximo vídeo clipe. Em uma entrevista na semana passada, Kuzmich minimizou o conflito com as outras participantes, dizendo que conversas muito mais “civilizadas” ocorreram nos bastidores sem que fossem transmitidas. “Elas não tiraram tanto sarro assim de mim”, disse ela.
Ela fez teste para o show, explicou a modelo, em parte para testar seus próprios limites. “Foi uma época de minha vida em que pensei: ou Asperger vai definir quem eu sou ou serei capaz de contornar o problema”, disse ela.

Para sua surpresa, ela foi votada como a favorita dos telespectadores ao longo de oito semanas seguidas, fazendo com que fosse uma das concorrentes mais populares do show em quatro anos e meio de história. “Estou acostumada com as pessoas meio que me ignorando”, disse ela em entrevista. “No início eu estava preocupada por achar que ririam de mim porque sou tão esquisita. Mas tive a reação exatamente oposta”.

Heather chegou ao grupo das “top five”, mas se confundiu com sua fala na hora de filmar um comercial. Mais tarde, ela ficou completamente perdida em Pequim e conseguiu encontrar apenas um dos cinco estilistas. Ela foi eliminada na semana passada, mas desde então já apareceu nos programas “Good Morning America” (“Bom Dia América”) e no “Access Hollywood” (“Acesso a Hollywood”). Ela diz que espera continuar sua carreira de modelo e se tornar uma porta-voz nacional para a causa dos portadores de Asperger.
“Eu não tinha idéia de que isso seria algo tão grande”, declarou ela. “Minha mãe está muito entusiasmada. Ela viu que quando eu era criança não tinha amigos e acompanhou meu esforço. Ela está feliz que as pessoas agora estão começando a compreender isso.”

(1) reproduzida pelo site G1 <http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL209708-5603,00-MODELO+COM+DOENCA+SIMILAR+AO+AUTISMO+SE+DESTACA+NO+AMERICAS+NEXT+TOP+MODEL.html>

terça-feira, 6 de abril de 2010

projeto pode colocar Brasil na vanguarda


Paulo Marcio Vaz , Jornal do Brasil


BRASÍLIA - Um projeto de lei prestes a tramitar no Senado poderá colocar o Brasil na vanguarda da luta contra o autismo. O texto, elaborado por diversas entidades ligadas à causa, prevê a criação do Sistema Nacional Integrado de Atendimento à Pessoa Autista. Se aprovada, a legislação será uma das primeiras no mundo a priorizar o autismo como caso de saúde pública em nível nacional, incluindo a capacitação de profissionais de saúde, a criação de centros de atendimento especializado e a inclusão do autista no hall das pessoas portadoras de deficiência, além de criar um cadastro nacional. No Brasil não há dados oficiais sobre a quantidade de portadores da síndrome, considerada epidêmica nos EUA.
Um acordo feito no âmbito da Comissão de Direitos Humanos do Senado garante a relatoria ao senador Paulo Paim (PT-RS), que, de antemão, já garantiu parecer favorável à aprovação do texto.

“ A abordagem será suprapartidária e espero que o projeto tramite já este mês“ diz Paim.
Drama
O drama pelo qual passam os pais de autistas, na maioria das vezes sem diagnóstico precoce e tratamento adequado para seus filhos, não é uma exclusividade brasileira. Recentes descobertas de um grupo de médicos e bioquímicos americanos, todos eles pais de autistas, têm causado polêmica e espantado uma parte da comunidade científica mais tradicional, a partir de evidências de que, ao contrário do que se pensava, o autismo não seria um mero transtorno mental, mas resultado de uma grave intoxicação, seja pela ingestão de alimentos contaminados com agrotóxicos, ou mesmo por substâncias químicas, incluindo metais pesados, que podem entrar no organismo das crianças por meio de diversos fatores, incluindo pelo uso de determinados medicamentos.
A nova abordagem a respeito do autismo assombra a indústria farmacêutica e divide a opinião de profissionais de saúde.
Semana passada, numa conferência em Brasília, médicos e cientistas brasileiros e americanos foram praticamente unânimes ao reforçar a nova tese. Segundo eles, os autistas têm muita dificuldade de eliminar toxinas do organismo, e a situação seria agravada por uma disfunção gastrointestinal que facilita a absorção de toxinas pelo intestino, fazendo com que as mesmas entrem na corrente sanguínea e cheguem ao cérebro, o que justificaria o comportamento autístico.
Boa notícia

 
A boa notícia é que a nova abordagem diagnóstica levou a novos tipos de tratamentos, de caráter multidisciplinar, e que vêm obtendo resultados bastante animadores. A terapia é baseada em dietas alimentares específicas, prática de terapias comportamentais, suplementação vitamínica e fortalecimento da flora intestinal. Como resultado, muitas crianças que antes sequer olhavam nos olhos dos pais, ou mesmo pareciam ser surdas devido à total falta de interação com o mundo, hoje conseguem falar, olhar nos olhos e demonstrar afeto. A adoção de tratamentos baseados neste novo tipo de abordagem está prevista no projeto de lei que chegará ao Senado.
Lado sombrio

 
O médico brasileiro Eduardo Almeida, doutor em saúde coletiva pela Uerj e um dos que se empenham nas novas pesquisas sobre a síndrome, considera o autismo “o lado sombrio da medicina acadêmica” e defendeu, durante sua palestra em Brasília, mudanças radicais na forma como a medicina tradicional aborda a questão.

“ Estamos numa espécie de encruzilhada da medicina alopática“ analisou Almeida.
O professor emérito de química e bioquímica da Universidade de Kentucky (EUA) Boyd Haley também defende a tese segundo a qual o autismo tem muito a ver com uma intoxicação por substâncias como os metais pesados, principalmente o mercúrio. Durante a conferência, ele apresentou estudos feitos nos EUA que reforçam a tese.
Abordagem holística traz melhora a crianças
Em geral, médicos e outros profissionais de saúde que aderem às novas teses sobre diagnóstico e tratamento de autismo são pais de crianças que sofrem da síndrome. Ao não encontrarem solução na medicina tradicional, eles iniciam pesquisas por conta própria, e formam grupos cada vez mais coesos que defendem abordagens holísticas, incorporando ao tratamento aspectos da biomedicina e medicina ortomolecular, além de terapias comportamentais, dietas restritivas e a administração de suplementos.



A dentista Josélia Louback, 38 anos, mãe de um menino autista de 6, comemora as conquistas do filho. Segundo ela, Arthur só começou a melhorar depois do novo tratamento.
“ Ele teve ganhos de concentração e melhorou muito seu comportamento“ garante.
Nos exames de seu filho foram encontradas grandes quantidades de metais pesados como cádmio, alumínio e bismuto. Aflita também com a possibilidade de contaminação da criança por mercúrio (por não ser excretado, o metal não é detectado nos exames), Josélia teme que os anos em que passou manipulando a substância em seu consultório, confeccionando amálgama dentário, tenham contribuído para a contaminação de seu filho.
A bióloga Eloah Antunes, presidente da Associação em Defesa do Autista (www.adefa.com.br), também vê melhoras significativas em seu filho, Luan, de 8 anos. Eloah foi uma das pioneiras na adoção dos novos tratamentos relacionados ao autismo. O diagnóstico da síndrome foi dado por ela mesma“ posteriormente confirmado por um pediatra“ depois que vários médicos descartaram a possibilidade.
"Infelizmente, a medicina acadêmica ainda sabe pouco a respeito do autismo.“ reclama Eloah. “Aprendi muito sobre a síndrome pela internet, mantendo contato com profissionais nos EUA, pais de autistas que também se rebelaram contra os médicos tradicionais de lá. (P.M.V.)
A dieta correta significa 60% da recuperação
A analista de sistemas equatoriana Andrea Lalama jamais havia pensado em ser homeopata. Radicada nos Estados Unidos, ela se casou e teve dois filhos, ambos autistas. A falta de médicos capazes de tratar adequadamente seu primeiro filho a fez se inscrever num curso de homeopatia e pesquisar, praticamente por conta própria, uma forma eficaz de tratamento. Hoje, aos 8 anos, seu filho mais velho apresenta traços mínimos do espectro autista, e a mais nova é considerada uma criança normal. Andrea agora vive rodeada por pais de autistas, muitos deles médicos, que buscam sua consultoria. A homeopata é uma das vozes mais ativas dos Estados Unidos em prol da adoção e do reconhecimento dos novos diagnósticos e tratamentos para o autismo que, segundo ela, a medicina tradicional se recusa a reconhecer.
Como estão seus filhos?

 
Estão muito bem. Meu segundo filho não tem mais traços de autismo. Meu primeiro tem alguns traços, mas são mínimos. Ele vai à escola regular e leva uma vida praticamente normal. Tentando ajudar meu primeiro filho, tive que estudar muito e me tornei homeopata. Até hoje, costumo ir a muitos seminários sobre medicina ortomolecular e energética, medicina tradicional chinesa, enfim, qualquer tipo de medicina integrativa e alternativa. Com isso, acabei absorvendo o que era útil. Cada terapia tem um pouco a oferecer, e se você combina tudo isso, faz o que eu chamo de abordagem holística. Foi isso que ajudou meus filhos.
Qual o papel da alimentação na recuperação?

Uma dieta correta representa 60% da recuperação do autista. Mas há regras nutricionais muito específicas, pois é preciso reparar as disfunções gastrointestinais presentes nas crianças.
Quais os pontos mais importantes da dieta?
A alimentação orgânica é imprescindível, e a preparação dos alimentos também tem de ser especial. Se não houver uma preparação adequada, toxinas entrarão no organismo e causarão mais sintomas de autismo. O intestino do autista é bastante poroso e transfere essas toxinas para a corrente sanguínea, fazendo-as chegar ao cérebro. Para prevenir isso, até que você consiga fortalecer as paredes intestinais, é preciso reduzir a toxidade. Outro fator importante é que as crianças autistas não digerem bem os alimentos, pois têm carência de enzimas. Então, a comida deve ser pré-digerida.

Então, há um componente de alergia alimentar relacionado ao autismo?
O autista tem um intestino poroso. Portanto, praticamente tudo o que eles ingerem vai para o sangue. Numa criança normal, isso não acontece. Alguns protocolos recomendam remover a comida das crianças e a substituir por cápsulas contendo enzimas, probióticos, vitaminas e coisas do gênero. Não digo que está errado, mas eu não apoio esse procedimento, porque Deus não criou cápsulas, mas comida limpa e orgânica para ser bem preparada. Se seguirmos as regras, podemos reparar as disfunções gastrointestinais. Por causa da comida industrializada e de elementos químicos presentes em diversas substâncias artificiais, os autistas estão 100% intoxicados.
Há algum tipo de retardo mental no autista?
Não há retardo mental, há intoxicação. Os autistas têm uma enorme deficiência para se livrar dessas intoxicações, se intoxicam mais rápido do que se desintoxicam.
Os médicos tradicionais concordam com essa tese?
Um médico que jamais esteve numa conferência sobre autismo dirá que somos loucos. Eles só dizem que o autismo é causado por uma disfunção cerebral. Mas já provamos a verdade.



Então, há uma briga entre os defensores de sua tese e os médicos tradicionais?
Não há briga. Há negação. As fundações e comunidades ligadas ao autismo nos EUA já convidaram a American Medical Association (Associação Médica Americana) para sentar à mesa conosco e ver as evidências. Eles se recusaram. É uma verdade inconveniente dizer que as toxinas que desencadeiam o autismo nas crianças vêm da comida e de vacinas, por exemplo, porque alimentos e drogas são duas instituições que geram muito dinheiro. Como o governo vai apoiar a ideia de frear essa indústria?
Quando há muita discordância entre profissionais de saúde, não há o risco de surgirem oportunistas com supostas soluções milagrosas?
Os pais têm que ser céticos em relação a tudo o que lhes dizem. Mas é obrigação deles sentar em casa e pesquisar. Hoje, ir à internet é mais fácil do que ir à livraria, e você encontra provas de que as crianças estão intoxicadas. Temos provas científicas das disfunções gastrointestinais nos autistas. Se seu filho se comporta como autista e um médico diz que ele está bem, desafie-o a provar. Faça testes de laboratório, examine a microflora intestinal e veja se está tudo bem. Exames de sangue mostram que ele está doente. Exames do fio de cabelo podem comprovar a intoxicação. Quem diz que a análise do fio de cabelo não é segura está mentindo. Seria como dizer que não existe genética.

Mas por que os médicos tradicionais não aceitam essas evidências?
Nos EUA, muitos médicos tradicionais são orgulhosos e egoístas. Quando são desafiados e confrontados com questões que não sabem responder, eles atacam. Quem realmente acha que é bom médico não deve temer. Os médicos da comunidade autista estão dispostos a conversar, os médicos tradicionais não. Eles não querem saber, não retornam nossas ligações, não aceitam as novas evidências e não têm filhos autistas.
Universidades brasileiras começam a fazer pesquisas

Duas universidades brasileiras realizam pesquisas focadas, respectivamente, nos indícios de alergia alimentar e na intoxicação por metais, que, segundo especialistas americanos, teriam conexão com a incidência de autismo.

Em Niterói, a Universidade Federal Fluminense (UFF) vai verificar se realmente há ligação entre a síndrome e a intoxicação por metais pesados. Já a Universidade de Brasília (UnB) aproveita um estudo sobre doença celíaca para observar se há prevalência da intolerância ao glúten entre autistas.
A pesquisa feita em Niterói faz parte da tese de mestrado da biomédica Mariel Mendes, que conta com uma equipe multidisciplinar formada por nutricionista, psicóloga e farmacêutico. A universidade disponibilizará exames completos e atendimento gratuito a crianças, que estão sendo cadastradas.
“ A pesquisa visa comprovar não só a ligação entre autismo e a intoxicação por metais pesados, mas também a eficácia dos novos tratamentos propostos“ afirma a psicóloga Sandra Cerqueira, que faz parte da equipe sob orientação do doutor em farmacologia e toxicologia da UFF Luiz Querino.
Em Brasília, o pediatra e professor titular da UnB Ícaro Batista quer, em sua tese de doutorado, comprovar a prevalência da doença celíaca (intolerância ao glúten) em crianças autistas. Segundo ele, na literatura médica já há menção a um maior número de ocorrência da doença em autistas, mas faltariam pesquisas mais aprofundadas comprovando esta associação.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Artigo

TEORIA SOCIAL COGNITIVA E O TRATAMENTO DA SÍNDROME DE ASPERGER/AUTISMO
Resumo: Este texto, além de se pretender um breve resumo comentado sobre os avanços e limitações das idéias do psicólogo contemporâneo Albert Bandura e dos conceitos principais da teoria de aprendizagem social e da teoria social cognitiva trata também da evolução das teorias e tratamentos sobre autismo. A idéia é demonstrar que as novas psicologias cognitivas podem ajudar a entender e a tratar (em conjunto com outras terapias) dos transtornos de desenvolvimento do espectro autista, principalmente a Síndrome de Asperger.

Palavras-chave: psicologia cognitiva – síndrome de Asperger – aprendizado social.

Summary: This text, besides intending an abbreviation summary commented on about the progresses and limitations of the contemporary psychologist's Albert Bandura ideas and of the main concepts of the theory of social learning and of the cognitive social theory it also treats of the evolution of the theories and treatments on autism. The idea is to demonstrate that the new psychology cognitive can help to understand and to treat (together with other therapies) of the upset of development of the autistic spectrum, mainly the Syndrome of Asperger.

Word-key: cognitive psychology - syndrome of Asperger – social learning.
Introdução

Durante os anos 90, as idéias de Bandura passaram a desempenhar um papel importante no cenário global, passando a ser ensinadas em praticamente todas as universidades de psicologia e de pedagogia do mundo. Mais que isso: milhões de pessoas, desiludidos com a psicanálise e com o behaviorismo, passaram a trabalhar terapeuticamente a partir do enfoque cognitivo comportamental proposto por Bandura e por outros pesquisadores. Passou-se do modelo terapêutico das entrevistas interpretativas para treinamentos orientados para ação.

O ponto de partida de Bandura é perguntar como as pessoas exercem algum controle sobre seu comportamento? Para os adeptos do determinismo ambiental unidirecional (ou Behaviorismo) o homem é produto do meio ambiente. Por outro lado para os diferentes tipos de humanismo idealista, é o homem que cria as condições na qual se desenvolve. Ambas as perspectivas, apesar de antagônicas, acreditam na reciprocidade do aspecto oposto. Ou seja, tanto os comportamentalistas crêem na capacidade do homem de mudar o ambiente, como os idealistas observam o condicionamento ambiental.

O modelo de Bandura é resultado de três interfaces teóricas simultâneas: de suas críticas ao behaviorismo radical de Skinner, de seu diálogo com outros cognitivistas como Piaget e dos seus avanços clínicos e terapêuticos em relação à psicanálise e a Freud. Em relação a Skinner, Bandura introduziu a categoria de Self (não do modo esotérico como na tradição junguiana, mas como um campo da subjetividade e de interpretação afetiva dos estímulos). Em contrapartida, Bandura coloca a reflexão freudiana dentro de um contexto comportamental. E, finalmente, em relação a Piaget, Bandura repensa a idéia de aprendizado cognitivo.

Apenas a teoria da aprendizagem social insere um terceiro termo no modelo, postulando um determinismo recíproco entre os fatores ambientais, pessoais e comportamentais. Na teoria da aprendizagem social, há um sistema de controle – a agência e suas funções cognitivas - em que a auto-regulação é governada pela antecipação e por auto-reações afetivas.

Nosso primeiro enunciado é que o modelo triádico de condicionamento recíproco elaborado por Bandura permite definir os comportamentos autistas como aqueles que têm uma deficiência de interação direta entre comportamento e ambiente, fazendo com que se desenvolvam resiliências, ecolias, recorrências e fixações no campo cognitivo. O autista aprende a adequar seu comportamento indiretamente através de modelações secundárias ou repetições das modelações primárias do comportamento.

Os comportamentos autistas se caracterizam por três fatores básicos: ausência de sociabilidade, dificuldades de comunicação e imaginação obsessiva e repetitiva. No autismo, há uma falha na interação social recíproca: frequentemente, o autista se isola como se estivesse em outro mundo; é passivo diante dos outros e tem dificuldade de estar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo; suas tentativas de interação social podem ser desastradas e inábeis. Também há dificuldades de comunicação. Alguns não falam e tem pouca linguagem não-verbal. Outros têm a fala limitada, com imitações que podem ser do que o interlocutor acabou de dizer (ecolalia imediata) ou de situações mais distantes (ecolalia remota).

É comum o uso da terceira pessoa ao invés do ‘eu’. Abreviação de frases, expressão do estritamente necessário, sendo ignorados o contato social e a ‘troca de idéias’. A linguagem apresenta alterações no discurso recíproco, na compreensão da linguagem figurada e entoação estranha, apesar do vocabulário e da gramática intactos. E, finalmente, existe imaginação limitada; repetição incessante de movimentos, rotina ou de atividades específicas; reações comportamentais drástica mediante mudanças como, por exemplo, trocar de lugar um objeto da casa; rituais pessoais; mania de perfeição; tudo deve ser simétrico e não pode ficar fora daquele lugar. Gostam de alinhar coisas, colocar e tirar objetos de uma caixa. Tem pouca espontaneidade, mimese corporal, com comportamentos estereotipados, mal copiados dos outros.

Nossa hipótese é que essas duas das três características (a dificuldade de comunicação e a ausência de sociabilidade) são causadas por baixa interação ambiente-comportamento, enquanto a terceira característica, a disfunção na imaginação e na linguagem, é uma forma compensação cognitiva, que pode se desenvolver como resiliência, como no caso dos Asperger. Isto, no entanto, não significa que os fatores condicionantes ontogenéticos e filogenéticos se sobrepõem à subjetividade e ao Self. Ao contrário, no modelo de Bandura e (acreditamos) na sintomatologia do autismo, a consciência é o fator determinante. No entanto, é também o fator mais variável e flexível, se adaptando aos diferentes tipos condicionamentos.

Autismo e Asperger

O autismo foi cientificamente descrito pela primeira vez em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner. Pode-se subdividir a evolução dos estudos sobre a síndrome autista em três etapas distintas: a fase psicogênica (ou psicanalítica) em que o autismo era entendido como uma perturbação emocional adquirida. A fase behaviorista (e vygostskyana), a partir dos anos 70, em que o autismo será visto como um transtorno orgânico-comportamental de cunho biológico e hereditário (fase da ‘descoberta’ do espectro autista ). E a fase atual, neurocientífica e cognitivista, em que fatores genéticos, ambientais e cognitivos condicionam uma anatomia cerebral diferente. Fase cujo marco inicial é a pesquisa clínica desenvolvida por Donald Winnicott sobre o papel decisivo da subjetividade no autismo.

Pode-se dizer também que a Síndrome de Asperger (SA) é o transtorno menos grave do continuum autístico . A SA é um transtorno de múltiplas funções do psiquismo com afetação principal na área do relacionamento interpessoal e no da comunicação, embora a fala seja relativamente normal. Há ainda interesses e habilidades específicas, o pedantismo, o comportamento estereotipado e repetitivo e distúrbios motores. Os portadores são pensadores visuais, literais e inflexíveis. Orientados pela rotina e por regras, com dificuldades em se socializar, são pessoas bastante confiáveis e obsessivos por seus temas, assuntos e interesses favoritos.

Nesta terceira fase de pesquisa, várias explicações científicas parciais para as causas do autismo foram elaboradas, dando ênfase aos diferentes aspectos: as teorias cognitivas (de déficit da função executiva, de déficit de coerência central e de déficit de meta-representação), que admite os fatores ambientais e inatos, ressaltam o papel da subjetividade; a hipótese de intoxicação alimentar, que, aceita o papel do Self e da genética, enfatiza o meio ambiente; e as explicações que priorizam as diferenças anatômicas do cérebro determinadas pela hereditariedade genética.

A teoria cognitiva do déficit da função executiva se baseia na constatação de comprometimento da capacidade de planejamento e execução no autismo e da semelhança entre o comportamento de indivíduos com disfunção cortical pré-frontal e aqueles com autismo: inflexibilidade, perseveração, primazia do detalhe e dificuldade de inibição de respostas.

Já a teoria cognitiva de déficit da coerência central na representação é um aperfeiçoamento da teoria de disfunção executiva, que enfatiza a dificuldade de processar conceitos de totalidades abstratas e da preferência pelo processamento de imagens referentes a realidades parciais concretas. Em comum, as teorias cognitivas apresentam uma característica: a atribuição dos déficits sociais em autismo a dificuldades em modular tanto a dados sensoriais quanto a experiência perceptiva. Dessa forma, o ‘retraimento’ autista tem sido explicado em termos de um estado de excitação crônico ou flutuações nesses estados que conduzem à evitação do olhar, reações negativas e retraimento da interação social, como mecanismos para controlar o excesso de estimulação.

Recuperando a noção de déficit inato na capacidade de entrar em sintonia afetiva com os outros no autismo, identificada pelas abordagens psicanalíticas, surgiram também as explicações de danos na capacidade de meta-representar (ou mais especificamente, na incapacidade de desenvolver uma mente com ‘o outro dentro de si’), como fator explicativo das síndromes do espectro autista.

A segunda grande hipótese contemporânea, a de contaminação alimentar, acredita que o autismo é causado por stress oxidativo, metilação inadequada e distúrbios na sulfatação que acabam atingindo o cérebro e provocando o que chamamos de autismo.

A Dra. Amy Yasko é médica holística e naturopata, trabalha nos EUA com um protocolo feito através de exames genéticos, baseado no projeto GENOMA e mais precisamente com a epigenética, a ciência que pretende esclarecer como fatores ambientais (hábitos alimentares e estresse, por exemplo) podem interferir no funcionamento dos genes. Nesta perspectiva, o comportamento autista se mantém em um tripé que envolve os sistemas imunológico, intestinal e endócrino. E as causas principais do distúrbio autista são: a) a presença de mercúrio e metais pesados acumulado no organismo e; b) a produção de morfinas pelo organismo, metabolizadas a partir do glúten e da caseína . O protocolo se baseia em tratar o autismo através do comportamento do processo metabólico de cada indivíduo, com destaque para as dietas sem glutem e caseina, suplementação de vitamina B6, e uso de camara hiperbárica. Defendem essa hipótese organizações importantes como (Autism Research Institute ), responsável pelo protocolo DAN (Defeat Autism Now). Aqui no Brasil, o DAN é representado pela ADEFA (Associação Em Defesa do Autismo) e o movimento passou a ser chamar “O autismo é tratável”. De acordo com o protocolo DAN há muitos pontos a serem analisados . Cada caso tem uma combinação. Localizam-se os desequilíbrios no organismo através de exames específicos de sangue, urina, fezes e mineralograma; e prescreve-se uma terapia nutricional e bioquímica específica para cada caso, em conjunto com um tratamento educacional intensivo.

E, finalmente, há ainda as abordagens que privilegiam o aspecto genético, secundarizando a subjetividade e o meio ambiente. Em abril de 2008, a Escola Americana de Medicina Genética (ACMG), estabeleceu procedimentos de práticas clínicas a serem seguidos por geneticistas clínicos, tanto para determinar a etiologia dos casos de desordens do espectro autista como para tratar pacientes com este diagnóstico. Este estudo confirma que atualmente existe uma rotina bem estabelecida, clinicamente disponível, com biomarcadores identificados que auxiliam os geneticistas clínicos a avaliar e tratar indivíduos, descrevendo sucintamente alguns biomarcadores reconhecidos, importantes ferramentas clínicas identificadas para avaliação médica e resposta ao tratamento monitorizado .

Dentre as abordagens que enfatizam as diferenças na anatomia cerebral, destaque-se a pesquisa Espelhos Quebrados – uma teoria sobre o autismo (RAMACHANDRAN e OBERMAN, 2006) afirmando que deficiência anatômica no sistema de neurônios-espelho é a causa do autismo. Os neurônios-espelhos são os responsáveis pela modelação do comportamento a partir do ambiente e sua disfunção biológica explicaria a sobrecarga cognitiva, uma vez que a função de mimese passaria a ser desenvolvida por outras partes do cérebro. Também nesse paradigma, há muitos, como Oliver Sacks (1995), que não consideram mais o autismo como uma doença e sim como uma forma diferente de sentir e de pensar o mundo, tão válida quanto qualquer outra. Embora possuir uma anatomia cerebral diferente não seja necessariamente uma patologia, para maioria, o autismo ainda é um problema sério de vida e não ‘um modo alternativo de ser’.

Enquanto os médicos naturalistas dão uma ênfase exagerada à dieta SGSC (sem glúten e sem caseína) e a desintoxicação radical de metais pesados; os psiquiatras acreditam na prevalência genética/diferença anatômica do cérebro autista; e os clínicos, na hipótese da dissonância cognitiva; cada um, apostando em terapias específicas genéticas, farmacológicas ou psicopedagógicas. Porém os melhores resultados de tratamento são conseguidos com adoção de várias terapias em conjunto - o que decorre de uma concepção que acredita em um sistema de determinantes múltiplo e não de uma causa principal para distúrbios do espectro autista.

E isso nos leva ao nosso segundo enunciado: a Teoria Social Cognitiva, em virtude do seu modelo de condicionamento recíproco entre os fatores hereditários, ambientais e cognitivos, é a filosofia ideal para a integração dos tratamentos e terapias do autismo, através da técnica de Modelação.

Modelação

A mais importante contribuição teórica e prática de Bandura é a idéia de modeling – traduzida pelos adeptos da psicologia cognitiva para o português como modelação (enquanto a palavra shaping é traduzida como modelagem, utilizada pelos que preferem a análise comportamental). Modelação significa a adaptação/mudança por mimese criativa de comportamentos, isto é, através da imitação reinterpretada de atitudes, gestos, idéias, afetos. Para ele, todo aprendizado social se dá por modelação de comportamento.

O termo ‘mimese’ foi utilizado por Platão e Aristóteles (e por vários teóricos da arte e filósofos como Paul Ricoeur) para designar o mesmo que ‘modelação’: a apreensão criativa (e muitas vezes involuntária) de condutas alheias para incorporação no próprio comportamento.

Em seus primeiros trabalhos (1961-1986), referentes à teoria da aprendizagem social, Bandura estudou o papel pedagógico da imitação. Em um segundo momento (1986 até agora), ele vai aprofundar seus estudos no sentido de verificar a eficácia terapêutica da imitação, de “transmissão de condutas através de modelação”, principalmente no tratamento de fobias e dependências psicológicas. Porém, é importante citar a famosa experiência de modelação de comportamento agressivo com o ‘João Bobo’. Na experiência um grupo de crianças observa um filme em que adultos (dos ambos os sexos) gritavam e agrediam o boneco inflável. As crianças foram divididas e um grupo de controle não foi submetido à visualização do filme. No momento em que o ‘joão bobo’ é apresentado à criança, ela não tem quaisquer atitudes hostis com o boneco. Porém, após observar o adulto tendo comportamento agressivo com o brinquedo, a criança também passa a reproduzir o comportamento agressivo. Bandura verificou que as crianças que tinham assistido ao filme apresentavam o dobro das respostas agressivas comparativamente ao grupo de controle, inventando inclusive novas formas de agressão que não tinham sido observadas. Observou também que entre os que foram expostos à violência, os meninos foram mais vulneráveis a imitações agressivas que as meninas.

A modelação como terapia foi inicialmente usada por Bandura para trabalhar com herpefóbicos (pessoas com um medo neurótico de serpentes), fazendo com que eles imitem modelos de exposição a cobras, vencendo assim a fobia. Bandura observou que a modelação propicia tanto no aprendizado social como na re-adaptação terapêutica, três efeitos distintos de mudança de comportamento: o modelador, o interprete e o observador.

É lugar comum dizer que os autistas, principalmente os portadores de SA, copiam comportamentos, falas, sotaque e aparência de outras pessoas. Por outro lado, uma dos sintomas mais comuns de diagnóstico autista é a incapacidade de se colocar no lugar dos outros ou ainda da capacidade de representar e/ou abstrair. Pode parecer contraditório, mas as duas assertivas são verdadeiras: tanto os portadores de Asperger são notáveis imitadores como têm dificuldades em representar. Se nossa hipótese central for correta, os autistas têm dificuldades em modelar involuntariamente, eles precisam aprender a aprender comportamentos. Os três efeitos distintos de Bandura são simultâneos, mas também podem ser vistos como etapas de desenvolvimento da técnica de modelar para síndromes autistas e o objetivo integrado de seus treinamentos cognitivos deve ser o desenvolvimento e a ampliação da capacidade de meta-representação. O treinamento através de modelação incorpora outras técnicas psicodramáticas e teatrais.

Mas, vamos ao que interessa: nosso segundo enunciado é que a modelação elaborada por Bandura é o método ideal para integração dos tratamentos de distúrbios autistas.

O tratamento ABA (Applied Beravior Analysis, Análise Aplicada do Comportamento) é o principal programa de ensino intensivo das habilidades necessárias para que o indivíduo diagnosticado com autismo ou transtornos invasivos do desenvolvimento possa adquirir a melhor qualidade de vida possível. As oportunidades de aprendizagem são repetidas muitas vezes, até que a criança demonstre a habilidade sem erro em diversos ambientes e situações. A principal característica do tratamento é o uso de conseqüências positivas ou reforçadoras (presentes, elogios, gratificação).

A modelação de Bandura trabalha com três tipos de reforços positivos: o incentivo passado (tradicional ou clássico behaviorismo), o reforço prometido e o reforço vicário ou indireto, a capacidade seletiva de automotivação através da escolha do ambiente, dos modelos e dos reforços. Note-se que estes motivos têm sido tradicionalmente vistos como as ‘causas’ da aprendizagem. Bandura diz que eles não estão determinando ‘o que’ nós aprendemos, mas condicionando ‘como’ aprendemos.

Claro, existem também três motivações negativas para imitar: a lembrança dos últimos castigos, as ameaças (punições prometidas) e o castigo vicário através de situações que exijam grande desempenho ou que frustrem o sujeito aprendiz, inibindo comportamentos indesejáveis. Bandura diz que a punição em suas diferentes formas, não funciona tão bem como o reforço positivo e que, de fato, há uma tendência do sistema de restrições se voltarem contra o desenvolvimento do sujeito do aprendizado. Por ‘punição’ também não se deve entender castigos corporais ou constrangimentos morais, mas sim penalidades consensuais assumidas com antecedência, ‘prendas’, atividades compensatórias realizadas por espontânea vontade. O uso positivo da culpa aliado à mudança das formas e ocasiões de auto-gratificação pode acelerar bastante um processo de aprendizagem por modelação. Em todo caso, a modelação de Bandura permite incrementar bastante o tratamento ABA em sua concepção tradicional.

No filme Meu filho, Meu mundo (Son-rise: a miracle of love, 1979) , há uma cena em que os médicos behavioristas criticam os pais do menino autista protagonista por esses imitarem seu comportamento patológico, enquanto ‘o correto’ seria que apenas a criança imitasse os pais e professores. E, como filme mostra, a chave para entrar em contato emocional com a criança autista é justamente a reciprocidade da modelação, o fato dela ser uma via dupla é que permite que haja realmente comunicação. A grande relevância desta abordagem, no entanto, está em provar o papel central da afetividade na mudança do comportamento autista. E, no ABA, a imitação é unilateral e segue um modelo de interação um-um.

Outra forma de tratamento autista por treinamento cognitivo muito conhecido e aplicado é o TEACCH . Enquanto o ABA é uma terapia comportamental que tem por objetivo adaptar o portador do distúrbio ao ambiente social, o programa TEACCH, mais atual, há uma ênfase no desenvolvimento da consciência das diferenças neuro-cognitivas. Mudar o comportamento não é um objetivo em si mesmo. É possível combinar estratégias do TEACCH e da ABA, porém, é muito importante que eles sejam filosoficamente integrados (pela Teoria Social Cognitiva, por exemplo). Talvez os que trabalham com ABA não enfatizem tanto a autonomia, sendo às vezes difícil evitar que as crianças tornem-se dependentes de modelos. Por outro lado, trabalhar com a abordagem TEACCH pode fazer com que se concentrem demais na independência e deixem de trabalhar com imitação.

Entre as terapias, também há várias possibilidades de combinação, porém as mais importantes são: a terapia ocupacional, a de integração sensorial e a terapia da fala ou fonoaudiológica. A integração das terapias pode ser embasada nos programas TEACCH e ABA. Também poderá utilizar o recurso PECS (Picturing Exchanging Communication System, Sistema de Comunicação pela Troca de Figuras).

Eu já conhecia o potencial pedagógico e terapêutico da imitação, devido as minhas vivências com o Círculo de Repetição. Bandura, no entanto, faz uma fundamentação científica impecável, com diversas pesquisas empíricas e várias discussões específicas.

O Círculo de Repetição é uma técnica que consiste em todos imitarem cada um dos participantes da roda. Tanto se pode deixar livre a ordem e o tempo de participação de cada um, de modo orgânico; como também estabelecer uma seqüência (o sentido horário do círculo, por exemplo) e um tempo (mínimo e/ou máximo) de fala para cada um, mas a imitação deve ser a mais perfeita possível em termos de movimento, voz e intenção – devendo-se evitar o máximo ‘interpretar’ o outro, embora isso seja inevitável e as pessoas acabem vendo como são vistas pelos outros. Esse não é a principal função do exercício, apenas um estágio inicial. Com o tempo (uns 30 minutos), cria-se um vínculo inconsciente entre os participantes, que passam a sentir a presença de si nos outros e dos outros dentro de si, e se estabelece um jogo profundo de troca de identidades e modos de ver e pensar. O Círculo comporta diferentes aplicações pedagógicas (ensino de línguas, de música, contar estórias míticas), terapêuticas (expressão de conteúdos emocionais reprimidos, ampliação da identidade individual) e hipnóticas (viagens da imaginação – a repetição de vozes com os olhos fechados), embora a verdadeira essência desta prática esteja em seu caráter lúdico e aberto à improvisação. O círculo de repetição abre as portas para inúmeras outras técnicas de roda (biodança, danças circulares, cirandas), psicodramas, narrativas míticas e de sonhos.

Porém, para promover essa integração de tratamentos e terapias através do aprendizado social por modelação de comportamento, não basta adotar a imitação como técnica principal, é preciso também ressaltar processos relevantes da mimese cognitiva:

1. Atenção. Se você vai aprender algo, você precisa estar prestando atenção. A atenção é o foco da percepção. Alguns dos fatores que influenciam a atenção têm a ver com as propriedades do modelo. Se o modelo é colorido e dramático, por exemplo, mais atenção. Se o modelo é atraente, de prestígio ou parece ser particularmente competente, despertará mais atenção. E se o modelo está mais perto de nós, ‘chama’ mais atenção. Essas variáveis foram usadas por Bandura para mensurar os efeitos da televisão sobre as crianças.

2. Retenção. Em segundo lugar, temos de ser capazes de lembrar do que prestamos atenção. Aqui, a imaginação e a linguagem entram em jogo, reanimando a imagem ou a descrição para que possamos reproduzi-los com o nosso próprio comportamento.

3. Reprodução. Neste ponto, estamos sonhando acordados. Posso passar um dia inteiro assistindo um patinador olímpico fazer o seu trabalho e não ser capaz de reproduzir os seus saltos, porque eu não sei nada patinação. É preciso ter a capacidade de reproduzir o comportamento memorizado. Por outro lado, é através da imitação que se melhora o próprio comportamento.

4. Motivação. Além de prestar atenção, se lembrar dos comportamentos e saber reproduzi-los, nós ainda não nos modificaremos, se não formos motivados para imitar, isto é, a menos que tenhamos boas razões para fazê-lo. Como vimos, há três reforços positivos e três negativos.
“Aprender a aprender” através da observação e modelação de comportamentos, implica na capacidade auto-regulação e do sujeito do aprendizado ‘ser agente’, isto é “fazer as coisas acontecerem intencionalmente” (2008, 69) em função do desenvolvimento, a adaptação e a mudança – não apenas do comportamento como também do meio ambiente que o condiciona e da consciência que o determina.

A noção de agência

A noção de agência, mais do que se definir como uma mera mediadora dos aspectos ambientais e comportamentais, tem um papel fundamental na constituição desses fatores e é formada a partir de quatro atividades cognitivas distintas: intencionalidade, antecipação, auto-reatividade e auto-reflexão.

1) Intencionalidade – Além do desejo consciente de mudança e/ou adaptação do comportamento, a intenção de se modificar ao longo do tempo implica em planos e estratégias.

2) Antecipação – Porém, o planejamento para modificar seu próprio comportamento implica em traçar objetivos e prever os resultados.

3) Auto-reatividade ou auto-regulação como atividade cognitiva necessária à mudança de comportamento pode ser subdividida em: a) motivação, isto é: na capacidade de se manter emocional confiante na mudança através, principalmente, das crenças de auto-eficácia; e b) auto-regulação propriamente dita, que para Bandura se dá principalmente através da modelação (a imitação criativa de outros modelos de comportamento).

4) Auto-reflexão – É a consciência, entendida como auto-referência e capacidade metacognitiva de refletir sobre si mesmo, como o principal fator interno no processo de aprendizagem social e nas mudanças adaptativas de comportamento.

Agência pode ser ainda pessoal, delegada ou coletiva; mas nunca individual para evitar a dicotomia com o social. Particularmente, também não gosto da agência coletiva. O importante, no entanto, é que a noção de agência permite pensar as possibilidades de aumentar autonomia dos comportamentos em função de seu condicionamento, alterando parte deste condicionamento.

Um exemplo: para mudar a dieta (excluir o açúcar e carboidratos com glúten – o que básico para os portadores de autismo), uma pessoa deve, em primeiro lugar, compreendendo que o desejo é mais forte que a vontade, desejar viver com qualidade para vencer (ou “ficar magro e bonito”) a vontade de comer doces e massas, e não ao contrário (colocar a força de vontade contra o desejo de come-los).

Mas definição correta do desejo a ser intentado, evitando-se a interpretar a restrição como uma punição corporal, não é suficiente sem uma estratégia e de um plano, envolvendo tempo, reforços, mudanças de condicionamento. A faculdade da antecipação, por sua vez, permite a redefinição constante dos objetivos possíveis e a motivação através dos resultados alcançados. A pessoa pode, no exemplo, evitar situações e lugares que propiciam o desregramento alimentar por algum tempo. A auto-regulação apresenta dois aspectos. Acreditar que se é capaz de parar de mudar de hábitos é preponderante para fazê-lo. Muitos manuais de auto-ajuda aconselham ao uso do gerúndio (“estou mudando”) ou mesmo o artifício decisão de longo prazo (“já me decidi emagrecer e vou conseguir não importa quantas vezes precise recomeçar”). O outro aspecto é a modelação, isto é, a imitação de comportamentos de pessoas saudáveis: o exemplo de amigos a quem admira e o apoio da família, além de diferentes tipos de reforço terapêutico, exercícios físicos, outras rotinas. O corpo aprendeu a comer bobagens por modelação e precisa aprender outros comportamentos para largar o antigo condicionamento.

A auto-reflexão, como sub-função do agenciamento cognitivo, consiste na compreensão do consumo excessivo de açúcar e amido (na verdade, do vício em dopamina associado à alimentação) como uma boa oportunidade para o descondicionamento da mente. A consciência agradece os ensinamentos da compulsão, pois entende seu papel no desenvolvimento. Mesmo considerando a auto-reflexividade como a sub-função mais importante no processo de agenciamento cognitivo entre comportamento e ambiente, a ênfase de Bandura é na auto-regulação.

O processo de auto-regulação, para Bandura, começa com a auto-observação, seguida pela auto-julgamento, que possibilita a auto-reação. O ciclo das sub-funções da auto-regulação não é automático e as etapas só ocorrem quando ativadas seletiva e voluntariamente pela consciência. Bandura prescreve uma auto-observação mental de médio e longo prazo, baseada em dois grupos de parâmetros: as dimensões de desempenho (as motivações do vício) e a qualidade de monitoramento (quantas vezes e como nos observamos). Esses dois parâmetros permitem estabelecer processos de auto-julgamento, levando em conta nossos padrões pessoais assim como outras referências de desempenho (comparações com os outros e com o próprio desempenho em momentos diferentes).

Pode-se, então, estabelecer o valor da atividade observada e seus determinantes são externos e/ou psicológicos. A partir daí, avaliam-se as auto-reações emocionais de entusiasmo e frustração e prescrevem-se medidas de punição e incentivo necessárias para modificar o comportamento observado. Nesse ponto, percebemos a importância do sistema de crenças do sujeito observado/observador. E entre as crenças, Bandura destaca a importância da crença na própria eficácia como sendo a mais relevante no aprendizado social.

A crença na Auto-eficácia

Para Bandura, entre os fatores que propiciam uma auto-regulação dinâmica no sentido da mudança de hábitos e comportamento está a crença na auto-eficácia, resultante das expectativas de desempenho e resultado.

Dito assim, parece ‘pensamento positivo’ ou outro ilusão de auto-ajuda, em que se desejando uma coisa, ela acontece - como no filme O Segredo. Porém, a auto-eficácia é apenas o julgamento da capacidade pessoal (2008, 32) e não uma força mágica ou telepática capaz de influir nos acontecimentos.

Enquanto a auto-imagem (ou auto-conceituação) é resultante do passado e a auto-estima é enraizada na situação emocional presente, a auto-eficácia é uma crença que nos remete para o futuro. “Auto-eficácia é o julgamento da capacidade para organizar e executar ações necessárias para alcançar certos tipos de desempenho” (2008,101).

Vejamos então como a crença na auto-eficácia se encaixa no conjunto das idéias de Bandura. Uma intensificação consciente desta modelação secundária, através de um treinamento em habilidades sociais é bastante indicada em várias situações, como por exemplo, a pessoa submissa socialmente e intolerante com os familiares. Geralmente esse comportamento (assim como outros semelhantes) é resultado de uma educação inadequada das pessoas com necessidades especiais severas e pode ser modificada através da modelação um-a-um.

No entanto, para portadores da Síndrome de Asperger (bem como para outros tipos de deficiência cognitiva de alta funcionalidade em que os portadores têm autonomia), a Teoria Social Cognitiva prescreve a auto-terapia (Self therapy), em que a crença na auto-eficácia ocupa um lugar central. Técnica que tem sido muito bem sucedida com problemas como tabagismo, distúrbios alimentares, dependência química e mudança de hábitos em geral.

Pode-se subdividi-la em três procedimentos:

1. Registros das condutas. A auto-observação requer que você escreva modos de conduta, tanto antes como depois das tentativas de mudança de comportamento. Este ato inclui coisas simples como a contagem dos alimentos consumidos por dia até comportamentos mais complexos, como por exemplo, cada motivo específico de consumi-los.

2. Planejamento Ambiental. Mudar o ambiente: eliminar ou evitar as situações que levam ao vício (televisão, geladeira, crianças). Também mudar de ambiente: fazer ginástica, curtir a natureza, evitar bares ou programas associados à alimentação desregrada.

3. Auto-contratos. Por último, há declaração de compromisso com o plano de mudanças, com suas recompensas e castigos. Estes contratos devem ser escritos na frente de testemunhas (para o nosso terapeuta, por exemplo) e os detalhes devem ser muito bem especificados: "Só vou para um jantar no sábado à noite se eu não comer bobagens esta semana do que a última. Senão, eu vou ficar em casa trabalhando” ou promessas semelhantes.
Nas terapias de modelagem um-a-um, outras pessoas (o terapeuta e os pais) controlam as recompensas e punições para motivar a mudança de comportamento, pois os portadores de necessidades severas não conseguem ser muito rigorosos com eles próprios. Na auto-terapia, no entanto, trata-se de aumentar ainda mais a capacidade de auto-regulação do agente, dando lhe o máximo de autonomia com supervisão para garantir um mínimo de frustrações e de experiências negativas. É claro que o erro faz parte do aprendizado. Porém, no desenvolvimento da crença na auto-eficácia é mais importante celebrar vitórias que reavaliar atitudes fracassadas.

Outra diretriz importante é estabelecer os domínios de auto-eficácia e os domínios de deficiência cognitiva e estabelecer metas para diminuição das dificuldades e otimização das capacidades. Seguindo o mesmo exemplo: um autista acredita na sua eficácia nos domínios matemáticos ou musicais, e de sua deficiência no domínio da vida afetiva e social.

Pode-se dizer que o conjunto dos domínios (eficientes e deficientes) forma um círculo vicioso de causas co-recorrentes em que as situações recorrentes se repetem de forma compulsiva e involuntária. O círculo vicioso pode ser revertido através de um plano de excelência de vida, retirando e adicionando fatores de reforço, para maximizar os domínios de auto-eficácia e minimizar os domínios de incapacidade. E à medida que a pessoa toma consciência desses padrões de repetição, rompe-se o círculo vicioso e há uma reorganização cognitiva e uma mudança progressiva na sua estrutura interna.

Na maioria dos casos, deve-se pensar um processo gradual que comece com a condição de um paciente dependente (da família e do reforço do terapeuta) e evolua para o contexto de um agente consciente que lute para conquistar autonomia, modificando-se na medida em que muda seu ambiente. Geralmente, isso exige que as mães (e as vezes, os pais e irmãos) também entrem em processo terapêutico, treinando novos comportamentos.

Há vários modos de definir as eficiências e deficiências, bem como de compreender os domínios para detalhá-los. No site ‘Coaching Asperger’ se enumeram as oito vantagens competitivas dos Asperger’s - o que é bastante interessante, porém limitado ao domínio profissional.

Do ponto de vista da formação escolar (e do desenvolvimento cognitivo da linguagem e da comunicação), há atualmente uma grande ênfase na utilização do computador como prótese da mente autista e no fato de que há grande número de portadores de SA que se tornam programadores ‘naturalmente’. Mas, quando se fala de prótese mental não se trata apenas da cognição visual propiciada pela sintaxe do computador, mas sim da constituição de uma identidade ‘à distância’ via Internet, transformando indivíduos introvertidos e isolados em uma rede de seres sociais, o que é um pré-requisito não só para uma ação social efetiva em uma voz na arena pública, mas, sobretudo, para uma mudança no comportamento e na identidade autista. O principal desses primeiros grupos é a ANI (Autism Network International) .

É claro que o computador não substitui a dedicação dos professores, nem o afeto e a atenção dos pais. Ele é apenas uma ferramenta superação para tríplice deficiência do autismo (comunicação, interação social e conduta recorrente), um instrumento para desenvolvimento da auto-eficácia. O importante é a mudança de atitude.

É, principalmente, através da auto-representação, que os autistas podem desenvolver sua autonomia e vencer o regime de dependência física e psicológica inerente a sua condição.

Conclusão

Além de realizar um breve resumo comentado das idéias do psicólogo contemporâneo Albert Bandura, aplicou-se aqui seus principais conceitos ao tratamento do autismo de alta funcionalidade e/ou síndrome de Asperger.

Com modelo triádico definiram-se os comportamentos autistas como aqueles que têm uma deficiência de interação direta entre comportamento (condicionamento ontogenético), ambiente (condicionamento filogenético) e o Self, em que se desenvolvam resiliências, ecolias, recorrências e fixações no campo cognitivo. Ressaltamos também que, na perspectiva de Bandura, o comportamento e o ambiente são fatores condicionantes, enquanto o Self, a subjetividade, a consciência são fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo e do aprendizado social.

Em seguida, com o método de aprendizagem social por modelagem através dos quatro processos (atenção, retenção, reprodução e motivação) como o ideal para integração dos tratamentos e das terapias de recuperação dos portadores de distúrbios autistas: a dieta SGSC (elaborada a partir de exames clínicos), medicação (segundo os biomarcadores genéticos) e o treinamento psicopedagógico da capacidade de representação cognitiva .

Com a noção de agência e suas propriedades cognitivas (intencionalidade, antecipação, auto-reatividade e auto-reflexividade), apresentou-se a proposta de auto-regulação (ancorada na observação, no julgamento e na auto-reação) da Teoria Social Cognitiva.

Finalmente, apresentou-se a crença na auto-eficácia, discutiu-se as técnicas de auto-terapia (o registro de condutas, o planejamento ambiental e o uso de auto-contratos) no tratamento de portadores de SA, principalmente com a utilização de computadores e da internet.

E, concluímos que: é através da auto-representação em suas diferentes esferas (social, política e pessoal) que os autistas podem conquistar autonomia e uma vida melhor em sociedade.



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